16 abril 2018

A morte do astro

Quanto ainda irá nos render a morte do astro do pop? Imagens, vídeos e números inundam nossas casas, talvez um espetáculo maior que a própria vida do Michael. Qual o lucro da morte dele? Para quem ficará esta herança? Essas perguntas também invadem minha mente.


As notícias que mais me impressionam perpassam sobre a capacidade de venda do cantor. De acordo com matéria do Globo.com, que reproduz o Financial Times, o site Amazon vendeu nas primeiras 24 horas após a morte do astro a mesma quantidade de álbuns vendidos nos últimos 11 anos. Já a rede varejista de música HMV diz que os CDs do cantor venderam 80 vezes mais após sua morte. O texto diz ainda que a resposta dos fãs à morte de Jackson superou em vendas o que ocorreu após as mortes de Elvis Presley e John Lennon.


Mais de 1,6 milhões de pessoas se inscreveram na internet para concorrer a entradas para o funeral, mais um grande espetáculo que renderá audiência nas tvs, vendas de jornal


A terra da gente tem gosto. E minha terra, em especial, tem o gosto mais doce de todos. O cheiro nos chama das esquinas ao amanhecer. Que delícia é encontrar na padaria, além do pão cacetinho, o mingau de tapioca, de milho verde, o mungunzá, o bolo de aipim. Ainda encontro nas ruas quebradas de Salvador a acerola fresca vendidas aos litros. O beijú também é encontrado nas bancas da ruas, pertinho das jacas frescas que nos convidam pelo doce aroma.


Vez por outra acho frases que embora concorde e com o que ela diz, não tenho coragem de reproduzi-las. A mesma coragem me falta apra descartá-las. Nesses casos, as guardo: num rabisco de papel, que ficará no fundo de uma caixa no armário, ou no próprio papel rasgado da revista, ultimamente, em emails endereçados a mim mesma.
"Chega um dia que as pessoas mudam;Os sentimentos acabam; E o coração faz novas escolhas". Achei essa frase ano passado e embora acreditasse profundamente no que ela afirmava, não representava o momento que eu vivia. Me sentia triste por isso, mas guardei, sabia que um dia, a frase teria vez e verdade na minha vida.

24 abril 2012

A vida, segundo Mario Benedetti



O tempo passa. Às vezes penso que teria que andar de pressa, aproveitar o máximo possível estes anos que me restam. Hoje em dia, qualquer um pode me dizer, depois de escrutinar minhas rugas: “Ora, mas você ainda é um homem jovem”. Ainda. Quantos anos me restam desse “ainda”? Penso nisso e me aflijo, tenho a angustiante sensação de que a vida está me escapando, como se minhas veias tivessem se aberto e eu não pudesse estancar o sangue. Porque a vida é muitas coisas (trabalho, dinheiro, sorte, amizade, saúde, complicações), mas ninguém vai me negar que, quando pensamos nessa palavra Vida, quando dizemos, por exemplo, que “nos apegamos à vida”, estamos fazendo com que seja assimilada por outra palavra mais concreta, mais atraente, mais seguramente importante: estamos fazendo que seja assimilada pelo Prazer. Penso no prazer (qualquer forma de prazer) e estou certo de que isso é a vida. Daí vem a aflição (…). Ainda me restam, assim espero, uns quantos anos de amizade, de saúde aceitável, de ocupações rotineiras, de expectativa diante da sorte, mas quantos me restam de prazer? (…) “Ainda” quer dizer: está no fim.

E este é o lado absurdo de nosso acordo: dissemos que levaríamos tudo com calma, que deixaríamos o tempo correr, que depois reveríamos a situação. Mas o tempo corre, deixemos ou não (…) A experiência é boa quando vem junto com o vigor; depois, quando o vigor se vai, resta apenas uma peça de museu, decorativa, cujo único valor reside em ser uma recordação daquilo que já se foi. A experiência e o vigor são simultâneos por muito pouco tempo. Estou agora nesse pouco tempo. Não se trata, porém, de uma sorte invejável.

Mario Benedetti, no livro “A Trégua“

Exterminador

Os dias parecem estar funcionado como trituradores nos últimos meses. Transformando em pó tudo que construí ao longo de anos. Sinto-me como uma pessoa desastrada caminhando em um fio suspenso sobre o nada. A cada vez que me desequilibro e tento me agarrar a algo, o máximo que consigo é ver desabar mais uma conquista. E penso: Dessa vez, ainda não fui eu.

15 março 2011

Fúria

Ela já não tinha mais esperança. Talvez, já fosse a desesperança em si. Olhou ao seu redor, teve os olhos fisgados pelos raios de luz no chão. Eles reproduziam as grades de ferro, um pouco acima de sua cabeça, que lhe separavam das ruas. Ela já não sabia quem era, o que queria e o que mais lhe aguardava, além de anos naquela cela fria acompanhada de baratas.

Neste instante, um fio de lucidez invadiu sua mente. As últimas 24h correram pela sua memória, Joana ficou tonta. Lembrou da música alta e do cheiro de cigarro que embriagavam aquela sala. Num canto, o enxergou. Ele estava com aquele olhar derretido, encantado e com um leve sorriso no canto da boca. Ela conhecia aqueles trejeitos: estava seduzido e seduzindo. A moça, nem tão bonita, mas jovem, era só sorrisos. Próximos a janela, o vento, a balançar os cabelos dela, parecia não incomodá-lo.

Foi tomada pela fúria. Depois disso, Joana só lembra dos vidros quebrados e do vento, que entrava com mais força e quase arrancava as cortinas. Neste instante, uma leve satisfação lhe tomou a alma. Agora, era ela quem carregava o sorriso no canto da boca.

22 dezembro 2009

Quando me amei de verdade

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E, então, pude relaxar. Hoje sei que isso tem nome...Auto-estima.

Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades. Hoje sei que isso é... Autenticidade.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferentee comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento. Hoje chamo isso de... Amadurecimento.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo. Hoje sei que o nome disso é... Respeito.

Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável ... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início, minha razão chamou essa atitude de egoísmo. Hoje sei que se chama...Amor-próprio.

Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre e desistide fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro. Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo. Hoje sei que isso é... Simplicidade.

Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muito menos vezes. Hoje descobri a...Humildade.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o Futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude.

Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada. Tudo isso é.... Saber viver!!!

(Charles Chaplin)

04 dezembro 2009

Eis amor

Elisa Lucinda

Ex-amor, respeite os nossos segredos,
respeite os nossos enredos,
os versos que te dei,
o amor lindo que vivemos, ex-amor.

Eis amor: os caminhos, os teus rios,
nossas diferenças,
nossas perdas,
nossas recompensas.
Ninguém sabe para onde vamos,
nem tampouco há alguma sentença.

Escrevo estes versos por respeito
aos versos que me deste, ex-amor.
Te agradeço, grande inspirador,
ainda que sejam estes
os últimos versos que eu te dou.

Where do you go when you're lonely?

Os olhos paralisavam em frente ao computador. Fitavam a tela, numa inútil espera. Queria ouvir o que nunca ouviria. Esperava ler uma não verdade, que ele certamente não diria, nem mesmo para agradá-la ou diminuir a sua dor. As verdades estavam implícitas em gestos, olhar, silêncio. Tarde vazia, noite longa.

01 dezembro 2009

Amor

Por indicação de uma amiga visitei este site de tirinhas.
http://www.umsabadoqualquer.com/
Visita obrigatória, muito bom. ;)

Para ler melhor clique na imagem abaixo.

18 novembro 2009

Tentativas

Tentei ficar distante, longe de você, para entender nosso caso. Pensei encontrar na sua ausência o sentido de querer tanto estar ao seu lado. Afastei-me, embora sempre colada nos seus passos, nos seus dias sem mim, nos dias em que buscou outros caminhos só para se esquecer de nós.

Tentei. Juro que tentei. Dormi horas de sono a mais nas minhas noites
frias para não me perceber sozinha, mas as manhãs chegavam para denunciar meu abandono. Fiz dessas mesmas manhãs tentativas de nascer de novo a cada dia, só que você estava nos meus pensamentos a cada vez que o sol aparecia lá fora.

Tentei amá-lo um pouco menos; não consegui. Lutei para ser feliz longe da sua cama; não pude. Quis me esquecer do seu cheiro, mas ele ficou no meu corpo, assim como seu suor, como as marcas dos seus dedos, como o seu prazer. Hoje jogo a toalha. Perdi em todas as tentativas.
Vencida, aqui estou eu, de novo. Não quero tentar mais nada.

(Texto da Ju, copiado do blog solreflexo.blogspot.com)

24 agosto 2009

Cora Vive


A cidade de Goiás comemorou este final de semana os 120 anos de nascimento de uma das maiores poetisas do Brasil: Cora Coralina. A menina que nasceu velha, como ela mesmo dizia, já devia ter visitado este mundo outras vezes. Como cabia tanta generosidade num olhar?
Uma mulher a frente do seu tempo, que contou e recontou histórias de um interior ainda muito cruel com suas crianças e suas mulheres. A mulher doceira, escondida atrás de marido ciumento, não se deixou passar em branco e registrou através das letras sua filosofia de vida. “Quebrando pedras e plantando flores”, escreveu nas estrelas.

Dizia que a culinária era a maior de todas as artes, e a expressava com seus doces “de receita dobrada”. Ao adentrar sua cozinha e ler nas paredes a poesia que descrevia seus doces, dá para sentir o cheiro do amor que vinha das suas panelas.

O amor também permeou seus textos, que contemplavam as mulheres da vida, os perdidos no mundo – sem eira nem beira – que se abrigaram em sua casa; e os carentes de juízo, que vagavam pelas ruas.

Cora vive! Vive em todos àqueles que acreditam no amor como uma filosofia de vida. Por Cora, fica mais uma vez evidenciado que espíritos de luz passam pela Terra para deixar mensagens de amor à humanidade.
Viva Cora!!!


Saber Viver

Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar

Cora Coralina

16 junho 2009

Os olhos percorrem o quarto, o corpo salta da cama... sem vontade.
Longe de deveres, esparrama-se no sofá. Ainda de meias, pijama e preguiça. A tv diz algo inteligível, pensamentos que apertam o peito e entristecem o olhar. Ainda nem testou a voz naquela manhã e o telefone toca, um alô tímido e um súbito despertar ao ouvir a voz do outro lado da linha. Coração dispara. Uma presente revolta: ligou pra quê?! Não me acorde dos meus sonhos...

10 junho 2009

Dia

Quase inverno, sai fumaça da xícara de café. Não me engana: está frio.
A torradeira acende a luz vermelha. Sentecia: o pão está quente.
Pela janela entra a luz do sol que esquenta minhas costas e ilumina minhas mãos, por elas, levo pão à minha boca. Na mesa, o mel, o iogurte, a garrafa térmica... ninguém.

08 maio 2009

"É preciso amar não só por um instante, casualmente, mas sempre até ao fim." Dostoiévsky

17 fevereiro 2009

O quarto alagou

O quarto alagou. Desde então tenho dormido nele deste mesmo jeito. Não adianta secar por aqui, quando saímos, ele continuou alagado, e foi lá -naquele quarto alagado - que a minha vida parou, congelou.

Estou trancada, com uma varanda que olha para uma cidade pequena, fria, com certo poder de mudar a vida das pessoas.

Continuou pisando com a ponta dos pés, para não molhá-los, no lado seco ando de salta alto, mas não quero estragá-los com a água.

Preciso limpar essa bagunça, por fim, acho que ela me prende aqui. Já, já farei isso, deixa só recuperar as forças que me foram sugadas, então, voarei para não mais voltar a essas lembranças tristes de palavras frias como aquela cidade que vejo ao anoitecer. São tantas as falas que elas já se rebelaram, renderam o conceito, mantém o motim há dias, alegam que precisam ser libertas, mas estes maus elementos fariam mal a sociedade.

22 janeiro 2009

Pense

O mundo está falando. Você está ouvindo?

29 dezembro 2008

A viagem de Santo Antônio

Santo Antônio, certa vez, escreveu que quando foi para o deserto fazer um retiro de silêncio foi acometido por todo tipo de visão – tanto demônios quanto anjos. Disse que, em sua solidão, algumas vezes encontrou demônios que pareciam anjos , e outras vezes encontrou anjos que pareciam demônios. Quando lhe perguntaram como ele sabia a diferença, o santo respondeu que só se podia dizer quem é quem com base na sensação que se tem depois que criatura foi embora. Se você ficar arrasado, disse ele, então foi um demônio que veio visitá-lo. Se você se sentir mais leve, foi um anjo.

"Comer, Rezar e Amar" no finalzinho de 2008, um ano de muitas tentações.

Lubrificante

É claro que aprendo com a vida, mas é, sobretudo, com a leitura que mais retenho conhecimento, ainda mais quando escrevo. Acredito sim na capacidade de conhecimento sem leitura, sem estudo, sem filosofar, mas acredito com mais convicção que o conhecimento teórico registrado, pensado e discutido por tantos cérebros brilhantes, que hoje absorvemos com tanta facilidade, é um verdadeiro lubrificante para a vida.

Céu ou inferno?

Talvez outras pessoas tenham o mesmo pensamento, mas não o contemplem desta maneira. Li um livro em que um xamã de Bali descrevia idas ao céu e ao inferno. Me surpreendi com sua revelação de que, exceto pela viagem, ambos lugares são iguais. É, isso mesmo, não há diferença entre o céu e o inferno. Fazemos parte de um grande ciclo de purificação, e quando atingimos a elevação espiritual necessária, somos sugados e finalmente nos fundimos ao universo. Seja isso o céu ou o inferno, a diferença será a viagem que você realizou, escolhida necessariamente por você. A ida para o céu é feliz, enquanto a para o inferno, triste e sofrível. Mas o fim sempre será o mesmo.

31 outubro 2008

Todo sono que essa vida dá

Esta noite, estilhacei a minha coragem contra um muro de concreto. Reuni toda ela, insuflei o peito e apostei a chance de ultrapassá-lo. O resultado é uma dor visceral que sinto neste momento. A cabeça parece pesar mais do que consigo suportar e o coração não deve estar maior que uma ameixa-seca.

Fica o embargo na garganta, de quem não conseguiu dizer tudo, nem terá outra ocasião. Ainda permanecerá por muito a difícil tarefa de esconder a cara de derrota para os queridos e as feridas expostas de uma luta comigo mesmo, travada durante meses.

De volta pra casa, a vontade de pouca conversa e a discrição de ir para cama muito antes do comum. E lá, se encolher como um caracol, habitar o interior do meu interior e aceitar o abraço do edredom com um olhar um pouco assustado e certo medo de viver.

Esperar que o sono seja profundo e a noite longa, mas ao amanhecer, que o tempo passe logo, para que eu possa voltar novamente para o mundo dos sonhos, onde estou segura de mim mesmo.

15 outubro 2008

Compasso

(Ricardo MacCord / Angela Ro Rô)

É o que pulsa o meu sangue quente
É o que faz meu animal ser gente
É o meu compasso mais civilizado e controlado

Estou deixando o ar me respirar
Bebendo água pra lubrificar
Mirando a mente em algo producente
Meu alvo é a paz

Vou carregar de tudo vida afora
Marcas de amor, de luto e espora
Deixo alegria e dor ao ir embora

Amo a vida a cada segundo
Pois pra viver eu transformei meu mundo
Abro feliz o peito
É meu direito!

14 outubro 2008

Lenda

A cachoeira parecia se espremer naquela manhã. Queria derramar todas aquelas águas que amargavam as margens do rio. Uniu tanta força que quase causou uma tromba d’água lá embaixo. Porém a sábia natureza deu um jeito de se arrumar rapidinho. Pelo menos lá por baixo, o grande volume de água de dispersou ligeiro, escorreu pelos riozinhos e fez a alegria de algumas comunidades que viam correr nos últimos dias líquido turvo e fraco, nem mais se podia chamar de água.

Não é nada, não é nada... e já brota das nascentes também nova força para embelezar a cachoeira. Não demorou uma semana e as plantas já sorriam, as flores estavam mais vivas e as frutas com mais viço.

Não demora também dos namorados voltarem a se banhar por lá. A moça diz que a pele fica mais macia e o rapaz fica todo empolgado com as maravilhas para a virilidade.

Ninguém sabe explicar porque as águas se amargaram de um dia pro outro, reza lenda que foi um desamor, ora, mas estão sempre a causar o dissabor.

28 setembro 2008

Guardião de memórias

Aquela foto nos revelou: distantes, desconhecidos, embora, amantes.
Mãos entre as pernas, sorriso constrangido, nem parece marido.
O coração bate forte, é o medo do flash.
O guardião de memórias não revelou, porém, o ciúme.
Escancarado com a implicância incomum.
Não revelou o carinho apertando a mão, apertava o peito também.
Não revelou a vontade de estar perto.
Não revelaria a vontade de dizer que ama demais aquela companhia.
Que no dia seguinte o telefone tocaria.
E, sem pensar, ambos se entregariam ao carinho dos abraços.
Sem saber quando seria a próxima vez.
Por isso, se amariam como se fosse a última.
Nestes encontros, alguém sempre quer colocar o ponto final:
Nas angústias, medos, fofocas, dores...
Alguém sempre quer mais prazer.
É uma relação desigual, ambos sabem.
Mas falar pra quê?
Materializar jamais.
Deixemos as dores noutros quartos.
Não num quarto de motel.

22 setembro 2008

Amarra o teu arado a uma estrela

Gil

Se os frutos produzidos pela terra
Ainda não são
Tão doces e polpudos quanto as peras
Da tua ilusão
Amarra o teu arado a uma estrela
E os tempos darão
Safras e safras de sonhos
Quilos e quilos de amor
Noutros planetas risonhos
Outras espécies de dor

Se os campos cultivados neste mundo
São duros demais
E os solos assolados pela guerra
Não produzem a paz
Amarra o teu arado a uma estrela
E aí tu serás
O lavrador louco dos astros
O camponês solto nos céus
E quanto mais longe da terra
Tanto mais longe de Deus

19 setembro 2008

Dedilhar as costas, massagear os pés, morder as pernas, abraçar apertado, olhar com os olhos fechados

- Respira...respira...

04 setembro 2008

Castelos

A saudade hoje chegou bem cedo, antes mesmo do café e do jornal. Pensei em você e senti nosso cheiro no ar. Sua voz, quase real, me chamou e repetiu, baixinho, palavras que me fizeram estremecer. O vazio gelado me trouxe, então, a vontade louca de correr para você.

Incitando minha agonia, as horas quase correram para trás. Dei mais corda no velho relógio da sala, na tentativa frustrada de fazer acelerar o dia. Por fim, venci o tempo, os contra tempos, desintegrei minha decência, abri portas que não devia e destruí paredes para estar ao seu lado.

A intenção era surpreender e bati de frente com a realidade: você não me esperava. Então me dei conta de que sua vida segue sem mim. Voltei os quilômetros percorridos com um bolinho nas amídalas e a certeza de que os castelos imaginados são bem mais coloridos que os de verdade.

É! Talvez não deva mais construir castelos. Mas se um dia voltar a fazê-lo, cuidarei para usar menos lápis de cor.

Ju


* Uma homenagem a sumida Ju, que escreve com honestidade os pensamentos femininos. E com este texto expressa os meus.

31 agosto 2008

Katrina

O rímel avolumava os cílios quando os primeiros pingos fizeram barulho no telhado. Era a chuva que dava o ar da graça depois de meses. É de se festejar. Corre pro jardim e já havia outros pulando também. – Viva! Mas não durou muito. Foi só um sinal de que a natureza não falha. Já chega o Sr. Setembro trazendo as chuvas, as tempestades, as roupas molhadas dentro de casa e a saudade do sol. Virá também o sono bom com o barulho do vento na janela e o doce cheiro de terra molhada.

29 agosto 2008

“Ouvia gabar os beijos,
Dizer deles tanto bem,
Que me nasceram desejos
De provar alguns também.
Essa fruta não é rara,
Mas nem toda tem valor,
A melhor é muito cara
E a barata é sem sabor.”

Júlio Dinis

28 agosto 2008

de passagem

Hoje acordei com vontade de ter em mãos baldes de tinta. Todas guache, é claro. Observei que meus cenários tem cores muito densas. Há muita seriedade. É trabalho. É família. É estudo. Mas também é medo. Mas também é tristeza. Quem sabe mais lilás, quem sabe verde-cana? Rosa?... faz tempo que não uso.
Saudade, ah essa bandida! "Deixa a gente comovido como o diabo"

Vai passar, vai passar...

Sempre

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."


Clarice Lispector

13 agosto 2008

Desassossego

Esta noite, quando as cortinas dos meus olhos se fecharam, meu coração tentou suspirar baixinho. Inútil tentativa de querer me fazer dormir. Vou ficar acordada quantas horas for necessário. Vigiando-te. Vou entrar embaixo do meu cobertor e simular de novo um ambiente só nosso. Vou ver mais uma vez a cortina do quarto se fechar. O sol da tarde lá fora denunciar que o dia segue seu curso. Inspirar fundo a cada abraço seu. Debaixo do cobertor, minha respiração vai esquentar meus pensamentos. Que por fim, afagará meu generoso coração, pra ele sim, dormir sossegado.

05 agosto 2008

Ela sempre vem...


Uma ventania estranha balançou hoje as cortinas da minha janela. Ela tinha um cheiro familiar, era a Mudança que anunciava sua chegada. Meu corpo estava dolorido e a mente um pouco tonta, mas não deixei de reconhecê-la.

Alguns instantes depois, percebi a sua presença já nos meus aposentos e a vi vasculhar minhas memórias, minhas esperanças, minhas tristezas, também as minhas dores, guardadas junto com os amores. Vi também sua elegância em não mexer no baú dos meus sonhos, estava apreensiva com a sua aproximação dele. Mas ela olhou por fora e o viu tão bem enfeitado, colorido, que acredito que ponderou que estava tudo certo com ele.

Dessa vez resolvi não interferir. Pra quê? Deixa ela levar embora o que é necessário. Quebrar algumas coisas, consertar outras, ela e o tempo são expert nisso. Da última vez que tentei imterrompe-la só perdi dias valiosos da minha vida, sem nada a aprender. Fiquei ali, mastigando aqueles velhos frutos que já não valiam de nada. Já tinham perdido o viço e o sabor.

Ela foi até rápida. Voltou rápido também desde a última visita. Essa mudança tá cada dia mais presente. É assim nessa fase da vida? Que fase estou?
- Ei, ei... volta aqui! Não me deixa sem resposta. (Pulei mais que depressa da cama).
E as cortinas já balançavam novamente com a ventania que ela provoca por onde passa.

15 julho 2008

Desde de então

Desde que meu olhar encontrou você atrás daquela porta,
Desde que você me descobriu com o sopro da sua ventania,
Desde que suas mãos tocaram meu corpo,
Há uma brasa queimando incessantemente dentro de mim.

14 julho 2008

Tic-tac

Faz muito frio debaixo do meu coberto este julho de inverno. As manhãs têm marcado 7° graus, e a preguiça tem registrado presença.

Enquanto isso, a sua coxa sobre as minhas costas tem sido apenas lembranças distantes. Devo registrar mais esses momentos, quem sabe assim, minha mente te retém um pouco mais.

É tudo tão rápido, o vento sopra, eu olho pra trás e shuuuuuuuuuuuuuuuaaaa... as folhas varrem você de mim. E já, já preciso urgentemente de outra dose de você.

29 junho 2008

Sinal vermelho

Ainda sob o tormento da sua falta, tomei uma decisão que já doía mesmo antes de suas conseqüências. Quero que você saia da minha vida. É, dessa forma mesmo, você está ocupando muito espaço. Não quero mais lembrar o seu cheiro, nem o ritmo da sua respiração. Quero que minha imagem desocupe seus olhos... e todas as suas memórias desocupem meu coração. Tudo isso está me causando calafrios no estomago.

Tem gente que reclama das escolhas, mas sabe, depois de ter de renunciar a você, tenho achado fichinha escolher para onde seguir. Problema mesmo é deixar alguns mimos pelo caminho. Seguir em frente carece de dar passos. Tudo bem, isso parece muito óbvio, mas você me deixa congelada no tempo.

Final de domingo, junho de 2008.

30 maio 2008

Copo cheio

Distante demais, agora. Naquele aeroporto de uma capital qualquer do litoral, o coração estava congelado numa mesa de bar no meio do cerrado. Mesa extensa, gente por todos os lados, eu querendo só o seu afago. Tanto que me mantive distante até no olhar, para não denunciar, estava transbordando de tanto te amar.

Cadê a brasa dos teus olhos?

Demasiadamente longe, mesmo perto.
Longe acompanha com o olhar, o ciúme não revela. Ao contrário, provoca.
Erra bonito. Desperta sentimentos pequenos, desperta uma avaliação superior.
Seria bem mais fácil estar do meu lado.
Que olhar é este? Cadê aquela chama que me iluminava?
Agora sinto a frieza, o distanciamento e a chama do ciúme.
Tenho culpa, bem sei.
Por não te amar como precisas.
Mas antes erra você, que não deixa.
Amor, amor... vi a nossa foto.
Estavámos lindos, mas você não estava lá.
... queria que fosse possível.
Dormir todos os dias no aconchego dos seus braços.
Queria te ter todo dia, isso você já sabia?
Vai, escuta direito: É ai!
Essa dor que machuca meu peito.
Devagar.
- Tá, Lê. Bem devarinho.



Brasília, sábado cinza de abril, 2008.

08 maio 2008

Todos traem

O elegante atrai
O dissimulado distrai
O tímido retrai
O safado subtrai
O curioso extrai
O reprimido contrai
O deslocado abstrai
O alegre descontrai

De um modo ou de outro, todos traímos

Às vezes sem querer
outras pelo crime

Às vezes sem saber
outras descobrimos

Às vezes sem prazer
outras é sublime

Alessandro Uccello

Sem palavras



"Já que nao fazer nada, mas carregar bolsas de grife e cachorrinhos feios é o suficiente para conseguir uma capa de revista, vale a pena tentar isso com pessoas que realmente merecem e precisam de atençao".
Plesner


A artista Nadia Plesner criou esta imagem e estampou em camisetas e posters como uma forma de chamar atençao para a fome e o genocidio em Darfur, na Africa. Ela virou alvo de um processo aberto pela grife de luxo Louis Vuitton. A marca nao gostou de ver uma bolsa sua reproduzida no trabalho de Plesner. A imagem de um menino africano carregando um cachorrinho no colo e uma bolsa pendurada no braço é uma critica à atençao que a midia dá a celebridades.
Informações do Blue Bus

04 maio 2008

Uma borboleta no meu banheiro

Há dias atrás me deparei com uma lagarta no meu banheiro...eca! Iria matá-la, claro, que coisa nojenta são os lagartos, quando não agressivos. Mas fiquei tão entretida e a acompanhei com os olhos deslizar pelo piso e repousar na porta. Logo no pezinho da porta.
Horas depois ela continuava lá, parada, imóvel no mesmo lugar. Ainda pensei em tirá-la dali, mas desistia sempre depois de pensar na logística. Dias se passaram, até esqueci, estava quase camuflada da cor da porta. Ixi! Secou e morreu, mas ainda a preguiça de desistituí-la do túmulo, afinal era a minha porta. E não é que, neste domingo, uma borboleta nasceu no meu banheiro! Fantástico!
Lá estava ela linda e verde ao lado do casulo. Fiquei encantada é claro, uma vida se transformou ali, bem diante de qualquer olhar atento. Pensar que isto acontece a todo instante, pensar que também nós, meninas, passamos pela mesma metamorfose e nos tornamos lindamente mulheres... Pensar que ainda assim tantas pessoas perdem este espetáculo...

02 maio 2008

Ideal ou possível

Há um certo tempo tenho feito escolhas possíveis, com muita loucura nessas escolhas. Racionais e emocionalmente empatadas... e isso é totalmente real. No momento que determino que não criarei falsas espectativas, nem encherei a minha cuca de paranóias... vivo dias muito pertos da perfeição.

P.S: Feriado na quinta, depois do filme e antes do Boliche. O filme? Claro. Cidade do Anjos.

07 abril 2008

Sobre a paixão - I


"Paixão é uma infinidade de ilusões que serve de analgésico para a alma. As paixões são como ventanias que enfurnam as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens nem aventuras nem novas descobertas."

Voltaire

28 março 2008

Hoje acordei embreagada, amor.
Seu cheiro ainda percorria minhas veias. Como pode? Questionava-me.
Uma leve dor de cabeça, eram muitos flashs de emoção.

Brasília, tarde nublada, 28 de março.

17 março 2008

Clemência

Vou pedir para te amar.
Baixinho, na penumbra.
Quero ver-te melhor pelas mãos.
Assim não errarei a precisão.

Vou pedir que me ame também.
De bom grado e bom coração,
erra o caminho não.

Vou pedir ainda um favor,
Atenda-me com todo calor,
Que nas veias pulsem vida,
Que no coração seja pungente o amor.

Bilhete

Quintana
Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima
dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

tem de ser bem devagarinho,
amada,

que a vida é breve,
e o amor
mais breve ainda.

16 março 2008

Querência


É dessa saudade que quero falar.
Desta procura desesperada pelos corredores da memória.
Te busco em cada instante caído e te acho em cada poema lido.
Mesmo distante sou capaz de ver cada passo, cada sorriso, mãos, olhares, bocas...
Conheço-te mais que tu mesmo.
Isso porque te observo enquanto reparas outros,
percebo seus risos, caras de bravo, de feliz, de indiferente, de desejo, de prazer.
Sei até do teu medo, tua carência e essa tua cara de inocência...
mesmo quando não há nada de inocente em você.
É muita querência, bem sei.
Querer-te bem de manhã, tarde e noite – principalmente- madrugada.
Tarde nem se fala. Cheiro, chuva, fome, chocolate, mãos e beijos.
Tardes dos desejos que me trazes,
Mas tarde, muito tarde, querido,
Vou dormir sem você.

14 março 2008

Congelou

Te vi mais uma vez. Estava lá. Caindo daquela montanha. Num instante qualquer. Um flash sobrou na minha mémoria.

Diário de bordo

Enquanto isso, aqui na Terra nossa humanidade é apaixonada pelas ínfimas diferenças que tornam cada presença peculiar e única, ao passo que, tudo que nos é semelhante e comum ganha de goleada. Para quem gosta de argumentos físicos, isto se revela em que, geneticamente, 99,9% dos genes são iguais em todos nós, e só 0,1% diferente. Nós queremos que nos entendam e aceitem por esta ínfima porcentagem, e mais, queremos que este entendimento signifique que a pequena diferença seja universalizada, tornando-se dominante e, assim, com plena satisfação passamos a vida promovendo nada além de nós mesmos. Enquanto isso, a Vida produz a si mesma, nos usando como testemunhas. Vida é a testemunha, Vida é o testemunhado, e Vida, também é o próprio ato de testemunhar.

Quiroga

10 março 2008

Amigos, um pouco de Quintana para adoçar a semana...

"No fim, tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar: um estribilho antigo, um carinho no momento preciso, o folhear de um livro de poemas, o cheiro que tinha um dia o próprio vento..."

Mário Quintana

05 março 2008

Timidez

Cecília Meireles



Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

— mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

— palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

— que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

— e um dia me acabarei.

04 março 2008

Paixão

Coração cansado de voar pelo vasto campo da liberdade.
Queira ele se aprisionar um pouco nas jaulas da paixão.
Oh, dor que causa estas grades.
Parecem feitas de aço, mas não passam é um material volátil.
Evopora com tempo.
Hummm...
Forte, porém efêmera. Assim é a paixão?
E quanto tempo dura?
É fenômeno do cérebro?
O que acontece depois?
Onde armazenar tanta energia fabricada por este sentimento tão intenso, verdadeiro, humano?
É a paixão o sentimento mais humano?
Então precisamos sublimar a paixão para evoluir, é isso?
A paixão é um sentimento egoísta.
Acho que também não tenho certeza disso.
Ela parece tão generosa...

03 março 2008

Casa da Montanha

Agosto de 2007

Assim como as cachoeiras mais belas, a casa era de difícil acesso. Ao longo do caminho erramos várias vezes o endereço. A referência era um mapa rabiscado no papel. Embora várias tentativas frustradas, o nervosismo não vencia a alegria de estar a poucos minutos de nos hospedarmos na Casa da Montanha, como se chamava, fácil de adivinhar o porquê. Depois de optarmos várias vezes pelo lado errado da bifurcação, encontramos a casa numa rua sem saída. A placa pendurada a identificava pelo nome.

O visual era de arrepiar. Seria inútil tentar descrever. Do alto daquela montanha, ficamos deslumbrados com tantas outras montanhas e pouquíssimas casas. Descemos as escadas e o teor das nossas escassas frases eram exclamações.

A lareira no meio da sala, com certeza fazia parte do imaginário de todos nós, não pensei duas vezes: corri para acendê-la. Alguém tentou me ajudar, mas logo foi repreendido pelo terceiro: - Deixa ela curtir isso! Essa era a minha única onda.

O cheiro revelava limpeza recente, foi preparada para nos receber.

Decoração rústica, móveis de madeira. Uma enorme cômoda ficava no canto da sala. Abri gaveta por gaveta. E lá, na última, o tesouro... discos de vinil. O repertório não podia não podia ser melhor. De Bethoven a Chico Buarque. Não precisavámos de mais nada. Ainda bem que a televisão antiga estava quebrada.

E assim habitamos por dias aquela casinha. Estávamos juntos: na hora de dormir, na hora de acordar, de tomar café ou de comer founde de chocolate, este não tinha horário. Mas, mesmo unidos, também contemplamos a solidão. Preservávamos a individualidade. A casa tinha tanto silêncio que éramos capazes de ouvir o silêncio do outro e compartilhávamos este momento, pois era bom.

A Casa da Montanha ficava ao lado da casa da Branca de Neve e dos Sete Anões. E assim, como num conto de fadas, sentíamos no ar e no coração o amor que habitava aquele lar. O riso fluía fácil, assim como o companheirismo, a generosidade e o carinho. Quem ali viveu foi feliz, quem por ali passou, viveu dias indescritíveis. Tudo ali soa poesia, porém não me arrisco a tentar juntar estrofes.

Fora a saudade, guardamos de lembrança a certeza de que devolvemos tanto amor quanto recebemos daquele lar e que a próxima pessoa que abrir aquela porteira, sentirá - tanto quanto nós - uma brisa leve no rosto que fará lembrar um doce beijo de um querido.

A verdade

"Não se acolhe a verdade na vida, como quem engaiola uma ave na floresta. A verdade é luz. Somente o coração alimentado de amor e o cérebro enriquecido de sabedoria podem reflitir-lhe a grandeza".

Imanuel

28 fevereiro 2008

Doce Veneno

Eu poderia simplesmente que não estou a sua disposição.


Mas é só isso? Não, tem muito mais. Como poderia resumir o desassossego que sua presença me causa. Explicar que a paz que você me tira é essencial para eu viver, quero dizer que me tiras um pouquinho de vida, entende?! Ai... como é bom morrer de vez em quando. O que fazer com este vício que despertas em mim? Não há antídoto? Hummm, será que o remédio é tão bom quanto o vício?

30 janeiro 2008

Não volte

Eu sempre vou pedir, ainda que não queira de verdade...
Pedir que se retire da minha vida, levando consigo todos os papéis de parede que estampou na minha memória. Chega de passear por aqui retocando cada beijo, cada cheiro e carinho... para que nunca sofram com os efeitos do tempo. Carregue também aquela velha vitrola - que não cansa de tocar velhas canções de amor, com todo aquele chiado que lhe é familiar. Na saída, diminua o volume das ondas do mar, elas já não terão graça sem você aqui.
Não me faça mais perguntas íntimas, o meu constragimento parece aumentar o seu poder sobre minhas emoções. Também não seja simpático com as minhas amigas, elas não carecem do seu sorriso. Queira por favor comunicar aos seus pais que não mas habita a minha casa, trate de passar-lhes outro telefone. Na semana posterior, quando já tiver superado a sua ausência, colocarei um novo anúncio no jornal... PROCURA-SE UM AMOR QUE NÃO DESPERTE O AMOR!

29 outubro 2007

Acima da moral


Sair daquele apartamento da forma como sai, era a certeza de nunca mais voltar, por isso, o nó na garganta. Sabia que era a atitude mais sensata, mas ainda assim doía. No fundo o sentimento era de alegria e tristeza, agia sob o julgamento de outros e agia também para fugir deste mesmo julgamento.


Era nítido que o sentimento por ele crescia, e eu não queria viver com a angústia que este sentimento me causava. O adeus tirava um enorme peso das minhas costas. Não seria capaz de precisar como minhas palavras foram recebidas. Havia ensaiado mil coisas para dizer-lhe, mas a sua presença me deixava sem ação, sem graça, sem vida, quase sufocada. E foi do misto destes sentimentos que saiu ... Não quero isto para minha vida!


Sei que a minha atitude não era esperada. Ao descer o elevador as lágrimas chegaram aos olhos, mas não se atreveriam a molhar meu rosto. No térreo, um belo rapaz me paquerou, não era um bom momento, serviu para lembrar que a vida pulsa.

Não poderia mais olhar-te nos olhos, sei da minha verdade, da minha transparência. Há de ter sensibilidade para percebê-la. Se eu tivesse de me explicar, ao meu mundo, não mais valeria a pena. Foi assim que me senti naquele último momento, incompreendida, e isso me feria mortalmente. Assim como a dupla moral, assim como a vida dupla, assim como um bandido amor.

25 outubro 2007

Saudades... é melhor que caminhar vazio!

Ter Saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um Dom
Que eu tenho em mim
...


Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
...

Peninha

10 outubro 2007

/Que o batom que ora enfeita meus lábios/
/seja ele rosa ou carmim/
/não incomode o dono dos beijos meus/

Quem ficou com a minha cota de coragem

Que angústia!!! Por que me sinto tão preocupada com avaliação do outro. Que maldita consciência é esta que me aprisiona, onde guardei minha coragem de transgressão? Quem me reprimiu? Quero ir mais além. Tão além que possa provar que minhas atitudes são desinteressadas. São movidas muito mais pelo desejo, assim como somos movidos pela vontade de viver. Mas, e se ninguém acreditar na minha verdade?! Terei vergonha de mim mesmo? Maldita norma social. Não é lei, mas funciona melhor que mil ordens. Quais são as vantagens de seguir as convenções? Eu tenho saudades de uma consciência livre, que nunca me permitiram.

24 setembro 2007

Frio, muito frio

Uma nova angústia tomava agora minhas emoções. Nada parecido com sensações já sentidas por este corpo e mente. Mesmo porque, problemas superados geram a necessidade de novas formas de adequação num novo ambiente que se delineia de então por diante. Sobretudo quando este novo ambiente não se representa só por uma nova percepção de mundo, e sim, porque este é um novo espaço, com novas relações humanas em um patamar onde a vaidade e o poder se entrelaçam e - quando não brigam - bailam pelos corredores desta arquitetura fria, mas imponente. Frio na barriga!

14 agosto 2007

Tinto Tango

Lilian Maial


O momento é rubro
Como o tinto
da boca carmim.

O sangue ferve
Como o vinho
que desce queimando
[em desejos]

O tango aquece
Como o calor
de lábios ávidos
de vinho
de beijos
de amor.

O tango gira
A cabeça quente
O vinho ferve
A boca rubra...

O peito explode
O pensamento alcança
O amor se jorra
na taça tinta
do teu olhar...
o vinho
o beijo
o tango...

O momento é carmim
A taça é de sangue
O vinho é loucura
O tango é desejo.
A boca rubra
A taça gira
O amor loucura
O vinho excita.

Bebo-te louca
beijo-te tinto
Sorvo-te tango
Amo-te boca
Vejo-me rubra.
(Era tudo que queria registrar)

13 julho 2007

Sombra



A vontade chega, mas a coragem fica escondida a metros numa esquina qualquer. Sinto a sua proximidade. Porém sou incapaz de ver algo além de um vulto a se esconder quando olho para trás na esperança de encontrá-la. Em certos momentos, quando caminho a passos largos, sinto a sua presença a me acompanhar. Mas é inútil virar-me!

07 julho 2007

Fragrância


O perfume foi o único fantasma que restou. Precisava enfrentá-lo, estava certa disso. Desde aquele último momento parei de usá-lo. O perfume era meu, mas me lembrava ele, que na época não usava nada para perfumar o corpo.

O cheiro que exalava dele era cheiro de gente. Cheiro de pele. Cheiro que me atraia, grudava no meu corpo e impregnava minha memória. Esse passou a ser o meu castigo. À medida que colava meu corpo ao seu, transferia-lhe - além dos meus sentimentos – o meu perfume. Que sedento aproveitava cada olor. Agora estava novamente de frente a este fantasma. O cheiro dele, ou melhor, o cheiro meu e, por um tempo, o cheiro nosso.

Pus o frasco de perfume em cima da penteadeira. Olhava-o como quem repreende um desejo. Aquela venha angústia voltava a causar calafrios no estômago. Velho castigo! O medo era de ressuscitar o sentimento.

Voltei a usá-lo. Não estava sendo justa comigo. E numa tarde, enquanto caminhava, soltei os cabelos presos desde a manhã, quando sai de casa. Ao despencar sobre os meus ombros, as madeixas trouxeram-me também o cheiro que tanto me fazia lembrar de nós.

Lembrei do seu olhar de repreensão quando ameacei mudar de perfume. Acho que já por pura intuição imaginei, àquele tempo, que não deveria ligar meu cheiro ao seu. Tarde demais. O estrago já estava feito. Lembro de ti porque a fragrância é eterna, amor!

Sim. O cheiro é o mesmo de sempre, porque emana da alma!

10 junho 2007

Como quem procura...

Hoje acordei com saudades! Algo indefinido veio aos pouco como um aperto no coração. Fazia frio. O vento de inverno cantava na janela, os olhos se negavam a abrir e o corpo se encolhia embaixo das cobertas. Pensei rapidamente nos afazeres que necessitava concluir, ainda naquele domingo, e levantei-me rapidamente. Não dei bola para o sentimento. Direto ao banheiro, acendi as duas luzes: a branca e a amarela (dizem que esta união é o mais próximo que podemos chegar da luz natural). Olhei no espelho e entendi: Durante muito tempo, conquistar era tudo que fazia, era tudo que eu queria. E a menina encantada com descobertas, esquecia de olhar para dentro.

Com a conclusão, o meu coração apertou ainda mais. É saudade de algo perdido ao longo do tempo. Não há um local definido, nem uma data. E se demorou tanto tempo para que eu percebesse - que pedaços de mim ficaram pelo caminho -, como posso fazer para recuperá-los?! De certo eles não estão mais lá. Outros que por ali passaram recolheram para si o que eu havia deixado. O que não foi aproveitado, o tempo deteriorou.

Penso que por vezes eu não tinha a intenção de abandonar nada para sempre, mas sim por um curto período. O suficiente para adquirir novas coisas e não carregar nada em demasia. Penso também que coisas outras foram deixadas por não se adequarem a um novo contexto de vida. E por fim, imagino que outras tantas eu abandonei por pura soberba: - Não preciso mais disso! Meras desculpas!


Nessa lista de baixas posso enumerar amigos, hábitos, estudos, disciplinas, simplicidade, amores, raízes, valores, desejos e aspirações. A falta de todos esses elementos somados, como numa equação matemática, talvez desse o seguinte resultado: menos alegria!

19 maio 2007

Da chegada do amor

Sempre quis um amor
que falasse
que soubesse o que sentisse.

Sempre quis uma amor que elaborasse
Que quando dormisse
ressonasse confiança
no sopro do sono
e trouxesse beijo
no clarão da amanhecice.

Sempre quis um amor
que coubesse no que me disse.

Sempre quis uma meninice
entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.

Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.

Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa
do pano de fundo dos seres
não assustasse.

Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.

Sempre quis uma amor
que não se chateasse
diante das diferenças.

Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o
futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar
o desenho
do invólucro e compará-lo
com a calma da alma
o seu conteúdo.

Contudo
sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira
ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amor
que sem tensa-corrida-de ocorresse.

Sempre quis um amor
que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.

Sempre quis um amor
de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de ocaso
estivesse imensamente
nas nossas mãos.

Sem senãos.

Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.

Eu sempre disse não
à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.

Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.

Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.

Sempre quis um amor não omisso
e que suas estórias me contasse.

Ah, eu sempre quis uma amor que amasse.



Elisa Lucinda

27 março 2007

Ossos do ofício

Quando o carro da redação encostou, parecia que a seleção brasileira havia feito um gol na Copa do Mundo contra a França. Eles gritavam de felicidade, pulavam, batiam palmas. Assustei-me. Também tive a certeza de que não se tratava de um assassinato, como acreditava inicialmente, tamanho a aglomeração. Eles achavam que estávamos ali por causa deles, mal sabiam que passávamos no local por acaso. Queríamos mesmo era chegar logo à redação. Mas o desejo por um furo movia a todos que ocupavam o carro. Por isso paramos.
Em meio a fumaça do mato queimado, desci do carro. Aos primeiros passos fui cercada por inúmeras pessoas que se atropelavam para falar, eu não conseguia entender nada! - Calma, calma! Contem o que aconteceu do início, por favor! A triste história foi aos poucos se delineando. Uma menina de 11 anos havia morrido depois de ser atropelada às margens da BR 040, quando tentava voltar para casa, na comunidade Sol Nascente, em Luziânia. Nós do jornal voltamos de uma outra pauta mais próximo do centro. Várias comunidades beiram essa BR. A Sol Nascente fica de um lado da estrada e a Ostaya fica do outro lado, só a primeira tem escola para crianças e jovens do local. Motivo que gera a necessidade dos moradores atravessarem constantemente a BR, que não dispõe de nenhum redutor de velocidade.Os moradores reivindicavam barreiras eletrônicas.
Depois que apurei o ocorrido, vou à casa da vítima. Precisava do nome completo da menina. Ligo para meu editor e conto a história, ele pondera que o jornal já está quase todo fechado, que não precisava investir na pauta. Mas já estou a caminho da casa dos familiares. Desconsolados eles tem dificuldade de falar e eu de perguntar. A avó da menina, que estava de mãos dadas com ela na hora da tragédia, trazia nas mãos o nome da menina. Escrito num material utilizado para decorar escolas e materiais escolares, ou mesmo lembrancinhas de aniversário. As letras demonstram uma certa dificuldade com a caligrafia. Talvez escrito pela própria vítima e arrancado as pressas de algum lugar no qual estava colado. O papel ainda trazia a cola ao fundo. Cinco linhas, foi o suficiente para a matéria ocupar o pé da página no jornal. O nome da menina? Wesllyane Cristine da Silva Nascimento.

08 março 2007

Brasília amarela


Morávamos num apartamento pequeno, no 4º andar de um prédio sem elevador. O quarto em que dormia era dividido com meus outros três irmãos, minha mãe nem sonhava em engravidar de novo. Dois beliches e um guarda-roupa, componham a mobilia do cômodo. Eu dormia na cama que ficava em cima da cama da Patrícia. Tinha medo de dormir com a janela aberta, o medo mesmo era de ser abdusida por E.T.s.

Certo dia, numa noite estrelada, tenho certeza que vi um disco voador riscar o céu. Sei que não era avião, pois as luzes que piscavam eram verdes. Fantasia de criança? Talvez. O medo não parava por aí, tinha também o dos morcegos e o de cair pela janela. Ouve até um dia que sonhei que estava caindo. Foi engraçado. Estávamos eu e minha irmã, com os braços abertos, tentando nos equilibrar fora da janela. Chega meu irmão alegre e feliz e nos abraça. Caímos os três. Antes de espatifarmos no chão, acordei. Estava prestes a cair da cama.

A posição da minha cama era estratégica, dava para ver a rua inteira. Ficava olhando a vida das pessoas no prédio ao lado. Toda vez que tinha uma mulher trocando de roupa com a janela aberta eu chamava o meu irmão. Quase sempre era mentira. Ele ficava bravo. Um belo dia tinha de verdade duas moças trocando de roupa. Gritei o Kinho sem parar, mas ele não acredita mais em mim. Depois de muita insistência, ele olhou. Elas já estavam vestindo a camisola. Ele ficou bravo comigo do mesmo jeito.

Nessa época, meu pai me deu uma função. Olhar o estacionamento e verificar se a Brasília amarela dele não havia sido roubada. Era engraçado. Todo santo dia, antes de descer, o meu pai me fazia olhar da janela e dizer para ele que o carro da família estava lá embaixo. No início eu gostava, depois comecei a achar a tarefa uma chatice. Mas fazia, quase sempre. Algumas vezes respondia que estava, mesmo sem olhar. Um dia cansei, me recusei a olhar. - Ah, meu pai! Claro que tá, quem vai roubar a Brasília?, respondi com malcriação.

Ele desceu. Eu, pela primeira vez, não respondi que o carro estava lá. Minutos depois ele sobe. Cabesbaixo, sentou no sofa abatido e ficou calado, enquanto minha mãe perguntava angustiada o que havia acontecido. "Roubaram o carro", ele respondeu. Acho que até hoje me sinto culpada pelo roubo!

Mulher...




Dia de celebração da vida, da sensibilidade, da sensualidade, da honestidade, da alegria, da força, da luta, do amor, do ventre do mundo. Viva ao estado mais avançado do ser humano, parabéns a nós mulheres!

Mulheres e árvores

As mulheres são como as árvores: elas fincam raízes no solo dos nossos corações, têm paciência e capricho com o próprio crescimento, seus braços são poderosos e, ao abraçá-las, nossos espíritos recebem renovadas energias.
Elas amam e cuidam dos seus frutos, mesmo sabendo que um dia o mundo os levará para longe. Outras, aquelas que não dão frutos, oferecem sua sombra àqueles que necessitam de descanso.
Quando açoitadas por fortes ventos da vida, elas emanam o perfume da força, trazendo calma por mais assustadora que seja a noite.Seus corações voam alto o suficiente para escutarem mais de perto os recados do céu.
Elas oxigenam as ruas das cidades, as avenidas, os acostamentos de estradas e as beiras de rios e até as matas. Elas entendem o canto dos passarinhos e, mais do que ninguém, valorizam e protegem seus ninhos.
Suportam melhor a solidão e as dificuldades da vida...Elas nascem em maior número para que o verde da esperança jamais empalideça.Todas mulheres são árvores... e que lindas florestas elas fazem.
Silvia Schmidt

07 março 2007

Súbito



Finjo não ver
Finjo não ouvir
Finjo não perceber
Para não sentir

Quero o mais do menos
Quero o lado bom do que julgam mal
Quero, do que não puder ser feito tudo, tudo que possa ser feito

Prefiro a coragem súbita e desesperada dos sempre covardes; a sempre covardia de quem se diz corajoso

26 fevereiro 2007

Quem sabe um dia


Era só mais uma viagem, de carro, de avião, de ônibus.... não fazia diferança... Tudo bem, fazia diferença. Por dois motivos: era formatura da minha irmã, que por sinal foi uma das cerimônias mais lindas que ja vi, e o outro era porque eu não estava com um bom pressentimento sobre a viagem. Estava apreensiva, não sabia bem o porquê. As vezes tenho que me moldar, afinal, sei que sou bastante superticiosa, mas quase perder o avião parecia coisa de aviso Divino. Mas graças aos atrasos dos aeroportos consegui voar.
Salvador, como sempre, fazia um mega sol! A minha vontade era de ir direto para a praia. Lógico! Mas o dever me aguardava em casa, trocentas mil coisas para fazer, inclusive cuidados pessoais como fazer as unhas, que a minha rotina, graças a Deus ocupadíssima, não permitiu fazer durante a semana. No meio do corre-corre da festa, quase virei fotógrafa oficial, para variar. O mais legal foi rever pessoas que não via há anos, isso foi compensador, saber o que algumas delas fazem hoje da vida, foi entristecedor. Dançar horas a dentro com toda a família reunida foi surreal, conseguir fazer a minha irmanzinha ficar acordada até amanhecer foi sublime, vê-la dançando de tudo com o meu pai cinquentão, até funk, foi lindo. Meu irmão mais velho e meu sobrinho, que gracinha, também caíram no trance. Bom demais!
A praia ficou para a próxima viagem. Pegar a estrada depois de ter uma semana frenética, passar a noite dançando e bebendo, e dormir só 3hs, para depois pegar a estrada e dirigir por 24h, não me animavam. Mas se é pra ser vamos lá. Me agarro na fé e sigo viagem com meus pais, resultado... uma viagem nostálgica. O medo do cansaço fazer meu pai cair nas armadinhas da estrada me fizeram ficar acesa e fazê-lo também ficar.
O incitava a contar histórias, ele tinha que contar porque as minhas o fariam dormir, de uma vida de muita garra numa cidade pequena. De enfrentar preconceitos contra a cor e contra pobreza, de casar com minha mãe mesmo contra a vontade da família dela e de todos os garotos da cidade. Enfim, a história da vida de um casal que daria um lindo romance, com drama, ação e uma boa pimenta. Ingredientes que se esperam de um bom romance. Fora isso, o registro de lindas imagens que contemplamos em filmes, novelas e pouco vivenciamos.
Da próxima viagem com meus pais, vou levar também um gravador, quem sabe assim não consigo, finalmente, escrever uma boa historia real. As três fotos acima foram eu quem as tirei. Três belas paisagens, uma é a minha irmã, afinal a festa era dela e ela merece toda felicidade do mundo.

19 janeiro 2007

Uma história

Semanas antes de viajar para Salvador a ansiedade tomou conta da minha rotina. Vontade, vontade e vontade de chegar logo na cidade. Sentia a necessidade de vivenciar aquele lugar, recorria a fotos, músicas de Caymmi, poemas de Vinícius.... tudo que me lembrasse a Bahia. As fotos existiam, as músicas também, mas e os textos, além de alguns versos?! Onde eles estavam? Algo que descrevesse as emoções de estar ali. Ali em frente à Baia de Todos os Santos, contemplar aquela imensidão de azul, aqueles muitos barcos, que parecem poucos e pequenos perante aquele mar.

Enfim, chego a cidade! Ao sair de casa todos os dias, pensava eu, hoje vou achar inspiração para escrever sobre a cidade. O dia chegava ao fim e nada. Praia, areia, brisa, risadas ecoavam de todos os lados, discussões - que também eram motivos de gargalhadas -, e sons, sons de todos os lados, vira e mexe e tem alguém batucando em algum canto. A cidade parece que é moldada pela música. Na cidade costeira, os ventos fazem curvas e cantam ao dobrar a cidade. Nas conversas com alguns novos íntimos a exclamação: Você mora em Brasília?!!! Mas o que você faz lá? Lá não tem praia!!! É, eu bem sei! Brasília não tem praia, não tem brisa, não tem mar. Aliás, praia até tem, mas é praia sem mar, é praia de lago e lago não tem sal. Eu me pegava pensando em Brasília, tentando achar respostas para a pergunta que sempre se repetia.

Chegava a Salvador de lancha. O elevador, logo em frente ao porto, me convidava a subir. Me convidava a olhar a cidade por cima. A tomar sorvete na Cubana, na saída do elevador, e depois deslizar sem pressa até a Praça da Sé, onde uma linda fonte luminosa dança ao som das músicas que ecoam dela mesma. Ainda dentro do elevador, ouço histórias engraçadas e rio timidamente. As histórias são contadas a outras pessoas que não a mim, mas ao perceberem o meu tímido interesse, a história começa a ser contado a todos que se encontram naquele lugar. Eu descia e subia ladeiras, e conservava um ar estrangeiro sobre a minha cidade. Eu me sentia cansada. Aquelas pedras do Pelorinho cansavam demais! Mas eu não queria ir embora. Eu queria ficar ali, eu queria conversar com as pessoas que passam o dia inteiro ali. Infelizmente o tempo não parava, eu já... já tinha que correr para dar tempo de sair de novo.

Estou na cidade que namora com o verão. O sol parece se estender para iluminar mais a cidade. Bronzear mais meninas, rapazes, deixar a pele arder e acender outras chamas. Continuo a pensar Brasília e a vivenciar Salvador!

Vivêncio o pôr-do-sol no mar, as ondas que batem nas pedras, as escunas que rasgam o mar, as ondas que me molham enquanto atravesso a baía, o sol queima meu braço, queima meu cabelo, me deixa a pele com cheiro de mar e gosto de sal. Perto de casa um barzinho nos convida a beber, bater-papo, rever os amigos. Os amigos, ah, os amigos... agora com outros compromissos, não mais podem varar a madrugada a conversar, me deixam nas baladas, que eu não mais me identifico, e se vão saudosos, tanto quanto eu. Me sinto obrigada a aproveitar cada minuto, gente bonita, beira do mar, salsa ao fundo, cerveja gelada, gente bonita... Quero ir para casa! Quero dormir! Nem acredito que esses são os meus pensamentos. O sol amoleceu meu corpo, o mar deixou a arder meus olhos, as pedras do Pelô cansaram as minhas pernas, meus pés não se arriscam a dançar salsa.

Desisti de escrever algo sobre Salvador. Entendo que o medo do fracasso deve ter feito muitas outras tentativas, também, ficarem pelo caminho. Deixar escapar a essência de uma cidade que difere de outras, mesmo tendo os mesmos atrativos, seria, no mínimo, um crime que não permite reparação para com quem desistiu de conhecer a cidade por achar sem vida a sua descrição.

28 dezembro 2006

Neste pedacinho de chão (foto acima) eu nasci. Por algum acaso do destino, só nasci. Mas sinto que minhas raízes estão fincadas lá por toda vida. A música Último pau-de-arara, gravada por Luiz Gonzaga, descreve bem essa relação com a terra natal:


Enquanto a minha vaquinha
Tiver o couro e o osso
E puder com o chocalho
Pendurado no pescoço
Eu vou ficando por aqui
Que Deus do céu me ajude
Quem sai da terra natal
Em outros cantos não pára
Só deixo o meu cariri
No último pau-de-arara

A profecia não se cumpriu de todo comigo. No primeiro pau-de-arara deixei meu cariri, a época representado por meus pais. Porém em outro canto não páro. Amanhã faço o caminho de volta e, dessa vez, só deixo meu cariri no último pau-de-arara. Pulsos sem relógio, vou à terra onde o tempo parece não passar.

Até mais ver,




26 dezembro 2006

Devolva o Neruda que você me tomou, o resto é seu

O teu riso

Pablo Neruda

"Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito brota da tua alegria,
a repentina onda de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso com os olhos cansados às vezes por ver que a terra não muda, mas ao entrar teu riso sobe ao céu a procurar-me e me abre todas as portas da vida"

A leveza depende de um ambiente propício





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18 dezembro 2006

Drão

Uma das músicas mais lindas que conheço, de uma beleza descomunal, de uma generosidade incomum, principalmente quando falamos do fim de um relacionamento. É o aprendizado de outras formas de amar. O verdadeiro sentido do amor universal, o amor que deve ser doado, que nunca se perde, que se transforma. Gratidão, generosidade mesmo. Passei o final de semana com ela na cabeça, isso me trouxe tanta paz que resolvi publicá-la aqui e dividir essa lição. Vale lembrar a historinha: Gil compôs a música para a ex-mulher Sandra. Chamada de Drão pelos mais queridos, por causa do Sandrão.

Drão o amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar plantar em algum lugar
Ressuscitar no chão nossa semeadura
Quem poderá fazer aquele amor morrer!
Nossa caminhadura
Dura caminhada pela estrada escura

Drão não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão, estende-se, infinito
Imenso monolito, nossa arquitetura
Quem poderá fazer aquele amor morrer!
Nossa caminha dura
Cama de tatame pela vida afora

Drão os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão, não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Se o amor é como um grão!
Morre, nasce, trigo, vive morre, pão
Drão

14 dezembro 2006

Nunca fui de despedidas

Era uma sexta-feira chuvosa. Na noite anterior ele havia implorado para que eu passasse o final de semana ao seu lado, de pirraça dizia não seguidas vezes - no fundo a minha vontade latejava tanto quanto a dele. Fim de expediente, resolvo ligar.
- Oi, - disse - quero dormir contigo. Mas só ouvi um silêncio do outro lado e um seguido: tum, tum, tum...

Não sei o que pensar, nem há tempo para pensar nada, logo em seguida o meu celular toca, é ele. - Desculpa, estava na frente do Capitão. O que você disse? Respondi repetindo a frase. Ele ria sem parar, foi o bastante. - Me pega no shopping daqui há uma hora! Ele concordou.

Cheguei duas horas e 40 minutos depois de desligar o telefone. Uma amiga carente me pegou para desabafar, não poderia revelar o meu compromisso, ela não aprovaria. O vejo de costas, mãos no bolso, respiro fundo e me aproximo com a cara e coragem. Ele parece que sente a minha aproximação e se vira. Depois do abraço pedi desculpas, ele não se importou, revelou que a única preocupação era com a minha chegada. Não era muito confiável ao marcar compromissos.

Chegamos no seu apartamento já muito tarde, no caminho uma discussão pois ele não havia me revelado que estava de serviço no dia seguinte. Iria embora, mas resolvi ficar. Às cinco da manhã, sonolenta, vejo uma movimentação estranha no quarto. Não dei importância. Ele se levantou, tomou banho, se trocou e saiu. Constatei depois de alguns minutos que realmente estava sozinha na cama. Levanto e me assusto, estou trancada no seu apartamento sozinha.

Voltei para cama, mas não consegui mais dormir. Ele não seria louco de ir trabalhar e me aprisionar em casa. Levantei novamente, percorri o apartamento olhando as mínimos detalhes, nada muito íntimo, cozinha e sala. Tomo banho e vou estudar um material da faculdade, tento me sentir natural naquela situação. Não vejo o tempo passar, quase 8h e ouço passos no corredor. Agora o ouço o barulho das chaves e vejo o trinco da porta rodar. Ri ao vê-lo encharcado quando abriu a porta. Chovia muito. Não ousou me tocar.

Contou que havia ido ao quartel trocar o serviço com alguém, era para se redimir do erro. Preparou açaí para nós, fez lasanha para o almoço. O dia chuvoso passou rápido. Torçemos para que o domingo fosse de sol, queríamos ir a praia. Triste ilusão. O domingo amanheceu cinza. Fui para casa no final da tarde. Estava feliz.

Na segunda troquei o celular e começei em um novo emprego, iniciei uma nova fase da minha vida. Nada de explicações. Passaram-se dois meses e nenhum contato. Resolvi ligar, no dia seguinte era meu aniversário. Percebo o seu susto do outro lado da linha. Expliquei tudo que deveria ter explicado naquele final de semana, as minhas necessidades eram outras. Ele não me perdoou, disse que eu havia bagunçado a sua vida, depois o deixei para arrumar sozinho. Ele ainda catava coisas espalhadas nos sentimentos. Isso doeu em mim. Sabia que não tinha o direito. Avisei do meu aniversário no dia seguinte e passei os meus novos telefones.

Passei o dia todo fora. Ao chegar em casa piscavam mensagens na secretária eletrônica. Ouvi compulsivamente todas na esperança de escutar a sua voz. Chego ao fim e nada, ele realmente não havia me perdoado. Vou até o quarto, guardo bolsa, retiro os sapatos. A consciência pesa, pela primeira vez me arrependi de uma atitude, nessas minhas "brincadeiras" perdi alguém. Volto para sala atravessando a cortina que a separa do outro cômodo. Olho para o telefone, me aproximo, sento no chão sobre o tapete e repasso novamente cada mensagem, agora ouviria com mais atenção. E lá estava ela, o meu melhor presente. Um silêncio inicial, um suspiro e, enfim, ouço a sua voz. A pronúncia do meu nome soa como música para os meus ouvidos. Ele era uma cavalheiro, não deixaria de ligar. Nunca mais nos falamos. As palavras daquela doce ligação ecoaram nos meus ouvidos durante dias, mas não consegui lhe retornar para avisar que iria embora definitivamente, e revelar que este era o real motivo do meu contato.

11 dezembro 2006

Encontro marcado com ninguém

Marquei um encontro com a razão, mas ela vive a se atrasar. Dias, semanas, meses de espera. Confesso que em todo esse tempo não marquei muitos encontros, mas todos foram dolorosos para mim, só pensar em sair de um mundo colorido - que me proporciona tantos sonhos, desejos, prazeres - e partir para o incerto, duro e limitado demais.

Prometo pra mim mesmo, bato pé, tento me isolar de qualquer contato com ela. 'Não. Prefiro o devaneio!', tento me convencer. Mas por meios que não entendo, quase que por osmose ela chega até mim. Insiste que já é hora. Eu concordo em tentar mais um vez. 'Dessa vez não vou me decepcionar!' Quem sabe não será nesta que ela, enfim, chegará na hora marcada?! Marcamos para alguns dias depois do contato. Os dias parecem eternos, até por a ansiedade tirar o meu sono à noite e a minha concentração durante o dia. Minha imaginação é tão concreta que consigo visualizar cada detalhe do encontro. O rosto sério, bem delineado e harmonioso da razão. Seus olhos que me fitam e me explicam coisas de um universo que se abre a minha frente e, ao mesmo tempo, me questionam com arrogância: - Como pode viver tanto tempo sem que me deixasse moldar a sua vida? Nessa hora irei sorrir. Como quem diz: Da mesma forma que o grande mentecapto, Geraldo Viramundo, de Fernando Sabino, viveu.

Chega o dia. Duas horas antes já estou pronta, espero a hora exata de sair. Acenderia uma cigarro, caso fumasse, este daria o tom da minha angústia. A casa ecoa o som dos meus passos no chão de taco que se mistura com o barulho da TV ligada no quarto, não consigo distinguir a programação. Está na hora! Vou até o espelho do banheiro, retoco o batom e saio.

Chego ao local combinado. Ainda faltam 30min! Um vento forte emaranha meus cabelos. Sinto cheiro de chuva, olho para os lados e me deparo com a solidão. Num parque, sem crianças, com poucas árvores e um banco de praça. O nervoso é tanto que enterro o salto alto da sandália no chão de terra. Outra rajada de vento, isso agora me incomoda. Aumenta minha angústia. Olho para o céu. Nuvens negras se movimentavam rápido, parecem ter pressa. Mas enfim, só faltam 3min. Julgo que devo esperar até a hora marcada e depois da sua chegada nos dirigiremos a um ambiente protegido da fúria do tempo. Agora, quando o relógio marca a hora do encontro, olho para os lados ansiosa para finalmente ver o seu rosto.

Essa minha angústia dura exatamente cinco minutos, tempo de cair o primeiro pingo de chuva no meu rosto. Não há tempo para me abrigar. Tudo parece um plano engendrado para lavar a minha cara, desbotar mais uma vez as cores da minha vida. Sim, a tinta é guache, mas não é frágil por isso. Muito pelo contrário, é estratégica. Não é como a tinta óleo, resistente, dura, difícil de manusear. Com a guache posso me renovar sempre que quiser. Voltar a colorir sem muito transtorno, mudar as cores e os cenários.

A razão faltou ao encontro novamente. Talvez amanhã o telefone toque, como de outras vezes, ela pedirá sinceras desculpas, que virão acompanhadas de argumentos plausíveis para atitudes não justificáveis. A razão vive presa a uma realidade cruel, descarnada... por isso ela judia da minha angústia, da minha longa espera, julga que isso não é coisa séria. No fundo ela acha que o tempo da minha espera é o tempo necessário para o meu amadurecimento, para que eu possa, enfim, acertar os meus ponteiros aos seus.

Mas o bom senso da razão não a deixa enganar, ela sabe que não pode pautar a vida da fantasia, embora uma não viva sem a outra. Marquei um encontro com a razão, mas ela vive a se atrasar...

08 dezembro 2006

Guerra

Uma pessoa que vive motivada pela beleza da vida e pela grandeza das pessoas, tem o fio condutor da sua existência forçado a se partir quando se depara com pessoas medíocres. É como encontrar-se em um caminho estreito, quase sem saída, num labirinto, com um mostro de duas cabeças.

Na metáfora, um mostro de duas cabeças pensa muito, é muito inteligente, mas os conflitos são tantos que eles não conseguem viver em harmonia com o próprio corpo. E ficam pelos caminhos da vida tentando se entender, se matando aos poucos e esbarrando nas pessoas que, por algum motivo, encontram pelos caminhos das suas vidas, forçando-as a entrar numa luta, na qual elas nada ganharão.

E, nesses encontros e desencontros, tento me esquivar, sair o mais ilesa possível, dentro das possibilidades que me permitem. Sei que vou carregar na bagagem cicatrizes desses conflitos que enfrentei para sobreviver, o tempo vai se encarregar de apagar algumas, mas outras estarão sempre visíveis a quem queira enxergar.

Sei que algumas vezes eu mesma vou entrar em batalhas, mas entrarei armada, pronta para guerra! Mesmo que na bainha da minha espada só tenha um bocadinho de razão que acumulei no caminho. Terei orgulho dessas minhas batalhas, independente do resultado final.

Em outras eu serei jogada ao acaso, sem precedentes, sem motivos. Como se passasse na frente de um estádio e um dos lutadores deixasse a arena, saísse correndo até a rua, pegasse a primeira pessoa que encontrasse lá fora e voltasse com ela para a arena como um motivo para reanimar a disputa. Nessas tenho certeza que sairei muito ferida, afinal, o circo já está armado e para os que estão de fora, tudo faz parte do espetáculo, e eu deveria ter motivos para estar ali, logo mereço apanhar.